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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Luciana Sargentelli comove a Avenida ao desfilar com os pés sangrando


Luciana Sargentelli foi destaque num carro alégorico no enredo “Pauliceia desvairada, 70 anos de Modernismo no Brasil” Foto: Sebastião Marinho / 02.03.1992
Gustavo Melo
extra
O sangue vermelho que corre nas veias de Luciana Sargentelli comoveu a Avenida. No desfile campeão da Estácio em 92, a bela mulata sangrou literalmente durante a passagem vitoriosa do Leão. Seus passos desenharam a beleza e o vigor do samba num tripé que representava o velho e o novo, a arte clássica e os traços da escultura modernista. E ela era a própria obra de arte em movimento.
Filha de Oswaldo Sargentelli, que fez sucesso ao produzir inesquecíveis shows de mulatas nos anos 70 e 80, Luciana foi destituída do cargo de rainha de bateria – que ocupava desde o carnaval de 1989 — em detrimento da modelo Monique Evans. Criou-se então um enredo de vilã e mocinha na dramaturgia do carnaval. Sobre uma possível rivalidade, a passista foi lacônica: “Eu não quero nem comentar. Minha resposta vai ser na Avenida”.
Após o desfile, Luciana Sargentelli precisou enfaixar o pé esquerdo
Após o desfile, Luciana Sargentelli precisou enfaixar o pé esquerdo Foto: Carlos Magno / 03.03.1992
E foi. Como num roteiro escrito para grandes personagens. Pouco antes do desfile da Estácio, uma chuva fina tomou conta da Sapucaí. A água tornou o piso do tripé em que vinha Luciana Sargentelli extremamente escorregadio. A solução foi tirar a sandália. Para completar, a chuva fez com que os espelhos que adornavam a varanda em torno da escultura central se soltassem. A combinação de pequenos cacos de espelho com os pés descalços da sambista foram perfeitos — e dolorosos — para uma passagem heroica e consagradora pela Avenida. Uma performance digna dos versos de Chico Buarque em “Vai passar”:
“Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais”
E no desvario da Pauliceia, a menina que flutuou nas asas da ilusão escreveu com sangue, suor e coragem a história de um título que o carnaval nunca vai esquecer.


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