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domingo, 7 de maio de 2017

Água do Orós se distancia


Produtores rurais e moradores de localidades ribeirinhas do Açude Orós, o segundo maior do Ceará, enfrentam escassez de água para o abastecimento de suas casas e para a produção agropecuária. Aquele verdadeiro mar de água está secando. O recurso hídrico distanciou-se das casas, das roças, a mais de três quilômetros. Com volume em torno de 10%, a situação deve se agravar ainda mais no segundo semestre.
Onde antes havia água, com profundidade superior a cinco metros, agora só há terra e vegetação da Caatinga. Em busca do recurso hídrico, pescadores e agricultores fazem cisterna na bacia do reservatório, na esperança de ainda coletar um pouco da chuva. "Precisamos de água para beber e cozinhar", disse a dona de casa Luízia Gabriel da Silva, conhecida por Mocinha, moradora do Sítio Tabuleiro. 
Em setembro passado, o Açude Orós acumulava cerca de 35% de sua capacidade, quando houve a decisão do governo do Estado de liberar maior quantidade de água para atender à demanda do Médio e Baixo Jaguaribe e da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Moradores das localidades ribeirinhas viram a água se distanciar rapidamente. Sem água no açude, os agricultores e pescadores esperam medidas de compensação. "Tiraram a água de nós, da nossa vida, e não nos deram nada em troca", reclamou o aposentado Antônio Josino da Silva, 65. "Nunca imaginei ter de escavar uma cisterna na bacia do Orós e esperar por água da chuva".
Mais afetadas
As localidades de Baixas, Tabuleiro, Jardim, Brejinho, Pereiro dos Pedros e Palestina são as mais afetadas com a redução de água do reservatório. As famílias, acostumadas a ver a água da porta de casa, agora têm de escavar cacimbas, construir cisternas ou percorrer longas distâncias em busca do recurso. "Poços foram perfurados pelo governo, mas ainda não foram instalados", reclama o piscicultor Moisés Pedro da Silva. "Nos sentimos abandonados".
A escassez de água não afeta apenas o consumo das famílias. Na região, havia centenas de piscicultores que investiram na atividade de produção de tilápia de forma intensiva em cativeiro. A atividade prosperou, gerou emprego e renda e atraiu filhos ausentes que trabalhavam em outros Estados. "Nós tínhamos um sonho, uma riqueza, mas agora só ficou a miséria", lamentou o produtor Edmilson Pedro da Silva. "Não disseram para nós que iam secar o açude".
A sede do distrito de Palestina é um dos maiores aglomerados urbanos da bacia do Açude Orós. Por enquanto, ainda há água nas torneiras, mas, a partir de setembro, o quadro deve mudar. "O açude pequeno da comunidade pegou um pouco de água neste inverno, mas logo vai secar", disse o morador Agenor Rufino da Silva. "Até agora, a Cagece não disse o que irá fazer para assegurar o abastecimento da vila".
Os moradores da Palestina defendem que a captação de água seja feita na localidade de Jurema, na bacia do Orós, distante sete quilômetros, onde já existem canos instalados. "Falta pouca coisa para ser concluído", observa o produtor Moisés Pedro da Silva. "O governo secou o açude e não nos dá um cano furado". Ele explica que a perfuração de poços na localidade não daria certo porque a água é salgada. "Já tentaram, mas não presta, tem sal, e nunca nos deram um dessalinizador".
Cacimbas e cisternas
Em vários sítios da Bacia do Orós, os moradores cavam cacimbas, na verdade, um buraco no chão, para captar água, mas solicitam do governo a perfuração de poços profundos. No Sítio Tabuleiro, a moradora Luízia Gabriel lembra que a água chega bem próximo das casas. "O açude secou, o projeto de criação de peixe acabou e quem tem condição faz poço profundo e quem não tem é o jeito escavar as cacimbas", disse.
O agricultor aposentado Josino da Silva terminou, na semana passada, a construção de uma cisterna praticamente dentro da bacia do Orós. "Secaram o açude, a água foi embora e está distante cinco, seis quilômetro, só dentro do rio", disse. "Nunca pensei na vida em fazer uma cisterna porque a gente tinha água perto de casa".
Nos últimos dias, dezenas de cisternas foram implantadas em sítios da Bacia do Orós, mas o número é insuficiente para atender à demanda. O animador de comunidade Tiago Barros disse que, com a retirada de água do reservatório, houve necessidade de trazer cisternas, mesmo dividindo com as comunidades. "A água de chuva é de melhor qualidade e, com essas cisternas, vai aliviar um pouco".
Crise
O produtor rural Marcos da Silva também disse que nunca imaginou a situação atual que enfrenta. "A gente tinha água de sobra, mas foi embora", pontou. "Perdemos quatro safras de peixe, estamos devendo ao banco, com o nome no SPC e a nossa sorte é essa cisterna que veio para aliviar a situação".
Fonte: Diário do Nordeste

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