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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

`Pílula do câncer´vira suplemento alimentar vendido na internet


A substância, que ficou conhecida no Brasil como "pílula do câncer", está sendo produzida na Flórida (EUA) e será comercializada como suplemento em março (Foto: Divulgação)

A fosfoetanolamina, substância popularmente conhecida como ‘pílula do câncer’, deverá ser lançada em março no país na forma de suplemento alimentar. O anúncio foi feito pela internet no fim da semana passada pelo biólogo Marcos Vinícius de Almeida e pelo médico Renato Meneguelo, que faziam parte do grupo de pesquisa do químico Gilberto Chierice, o criador da fórmula.

“A fosfoetanolamina como suplemento pode atrapalhar a pesquisa que está em curso. Vai tirar a credibilidade dela como um remédio potencial para tratar o câncer”, disse o químico Salvador Claro Neto, um dos principais parceiros de Chierice. “Ela vai virar cogumelo do sol. Qual médico receita isso?”, questiona. Para Neto, a venda como suplemento pode “queimar duas décadas de estudos sobre a substância”. Apesar de discordar da postura dos ex-colegas, o químico disse que não houve briga. “Foi só uma questão de ponto de vista”.

Atualmente, o composto é fabricado pelo laboratório PDT Pharma, em Cravinhos, para a realização de um estudo coordenado pelo o Instituto do Câncer de São Paulo, o Icesp. A primeira fase, que envolveu 10 pacientes, já terminou e mostrou que a fosfoetanolamina é, pelo menos, segura. Desde outubro, o estudo seguiu para a fase 2, quando sua eficácia será testada em 200 doentes. Ao todo, o processo pode levar dois anos para que, enfim, seja possível determinar se a fosfoetanolamina realmente funciona.

EUA

A substância está sendo produzida na Flórida (EUA) e será comercializada via e-commerce para o resto do mundo a partir de 16 de março.  A propaganda do produto não diz nada sobre tratamento do câncer, apesar de ser este o grande apelo comercial da fosfoetanolamina no Brasil. Nem poderia, pois neste caso teria de se enquadrar na regulamentação de medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e não há até agora nenhuma comprovação científica de que a substância funcione, de fato, no combate ao câncer.


O site criado pela empresa Quality Medical Line para comercializar o produto diz que a fosfoetanolamina atua como “um poderoso bio imunomodulador que age de forma constante e preventiva a distúrbios metabólicos e celulares, mantendo o equilíbrio e o bom funcionamento do sistema imune e da saúde humana”. Um dos anúncios colocados pela empresa no Facebook, porém, mostra uma mulher careca com a frase “Não desista!” – uma imagem que remete ao câncer.

Fórmula idêntica

Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, Almeida disse que a substância que está sendo produzida na Flórida é “idêntica” à que era produzida em São Carlos, porém sintetizada por um método diferente, para o qual eles estão solicitando uma patente nos Estados Unidos. “O que muda é o rendimento da síntese e a pureza do sal”, detalhou. Além da fosfoetanolamina, o suplemento contêm cálcio, zinco e magnésio.

Almeida diz que se afastou de Chierice porque ele era veementemente contra a venda da substância na forma de suplemento alimentar, preferindo esperar a conclusão dos testes clínicos – que estão sendo realizados em São Paulo -, para então comercializá-la como medicamento.

Almeida e Meneguelo também disseram não concordar com a posição de Chierice sobre os efeitos terapêuticos da molécula, quando ele dizia que a fosfoetanolamina pode curar qualquer tipo de câncer. “A gente não está buscando cura, estamos buscando melhorar a qualidade de vida de pacientes terminais”, disse Meneguelo. “Nunca falei para ninguém parar com radioterapia ou quimioterapia.”

A ideia de que a fosfoetanolamina pode curar o câncer, segundo Almeida, “é até o momento uma hipótese não confirmada”, que precisa ser validada pelos ensaios clínicos em andamento.

Fonte: Veja

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