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domingo, 8 de janeiro de 2017

Rebelião em cadeia para onde presos foram transferidos deixa 4 mortos em Manaus


Mãe se ajoelha e reza pelo filho preso em frente ao portão da Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa em Manaus (AM), neste domingo, após a Tropa de Choque entrar no local para conter rebelião que deixou, pelo menos, 4 mortos (Foto: Reprodução)

Pelo menos quatro pessoas morreram após uma rebelião na Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, localizada no centro de Manaus, na madrugada deste domingo (8). O local, que ficou desativado por três meses por falta de estrutura e segurança, foi reaberto no dia 3 de janeiro para receber detentos após os massacres que deixaram 60 mortos em dois presídios. A informação foi confirmada ao UOL pelo secretário de Administração Penitenciária do estado, Pedro Florêncio.

A reportagem falou de forma rápida com Florêncio às 6h40 (8h40 no horário de Brasília). Ele disse que não poderia dar mais detalhes. Fotos feitas por agentes penitenciários mostram que pelo menos três vítimas foram decapitadas e um corpo foi queimado. Os nomes das vítimas não foram informados.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AM (Ordem dos Advogados do Amazonas), Epitácio Almeida, que entrou na cadeia, disse que um quinto preso morreu no hospital. Ainda segundo ele, outros cinco detentos fugiram. O UOL ainda não conseguiu contato com o governo do Estado para checar as declarações.

Em nota divulgada mais cedo, o Comitê de Gerenciamento de Crise do Amazonas informou que os presos "iniciaram uma briga por motivo desconhecido" e que quatro detentos "foram mortos pelos próprios internos". Dos quatro mortos, três foram decapitados e um foi asfixiado.

"A situação neste momento é considerada estável e com policiamento reforçado pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. As mortes serão investigadas", conclui o texto de dois parágrafos.

Segundo o último balanço do governo, de quinta-feira, 284 detentos foram levados à cadeia Raimundo Vidal. Desde a madrugada, familiares de presos estão na porta da cadeia aguardando informações. Com a entrada de policiais do Choque na cadeia, os familiares (a maioria é composta por mulheres e mães dos presos) ficaram nervosos com a falta de informação. Algumas mulheres que tinham o rosto coberto tentaram bloquear a rua, mas a ação foi impedida pela polícia.

A Vidal Pessoa foi desativada, em outubro do ano passado, após frequentes registros de fuga, rebelião, assassinatos de presos nas celas e constatação pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) de que os detentos eram submetidos no local a condições sub-humanas.

Logo após a reabertura da cadeia, o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Amazonas, Antônio Jorge Albuquerque Santiago, disse que o local não oferecia segurança aos carcereiros nem aos detentos.

Na quinta-feira, houve barulho dentro da Raimundo Vidal. A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que o problema foi um "desentendimento entre dois presos", que foram transferidos.

No dia seguinte, presos provocaram um "tumulto" no mesmo local. Segundo o secretário de Segurança Pública, Sérgio Fontes, a confusão ocorreu porque os detentos queriam mais espaço e pediam banho de sol, mas parte do prédio passa por obras.

Uma fonte que teve acesso à cadeia no dia disse ao UOL que, durante o tumulto, presos depredaram as duas salas onde estavam abrigados, quebrando encanamentos. Ainda na sexta-feira, dois homens foram presos tentando passar uma mochila com facões por cima do muro da cadeia.

Em entrevista durante a semana, o governador do Amazonas, José Melo (Pros), disse que a Vidal Pessoa era única alternativa. "A alternativa era aquela. Mas [o presídio] está lá, está funcionando. Foi o único local que imediatamente a gente teve para garantir a vida deles", afirmou.

Com 109 anos, a Raimundo Vidal Pessoa foi inaugurada em 9 de março de 1907. Era a penitenciária da cidade e passou a abrigar apenas presos em regime provisório em 1999, quando o Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), onde 56 presos foram mortos , foi inaugurado.

Na tarde de sábado (7), a reportagem do UOL foi à região da Raimundo Vidal, cercada por residências, comércio e ruas de tráfego de carros e ônibus. Lá, verificou que havia dois carros da polícia. Uma em frente à cadeia e outro dentro.

No momento em que a reportagem esteve no local, nenhum policial circulava na parte superior dos muros, onde ficam funcionavam os pontos de monitoramento de segurança da vadeia.

A esposa de um detento, que disse passar o dia em frente à cadeia e pediu para não ser identificada, relatou que temia pela segurança do marido e, por isso, não saía do local. "Sei que aqui é horrível. Mas pelo menos estão fora de perigo", disse.

Ela se queixou da falta de policiamento visível na área. "Só tem essa viatura. Em cima do muro, de vez em quando vejo um gatinho circulando e os ratos no chão", afirmou.

Em entrevista ao UOL, na noite do sábado, Fontes declarou que não havia motivo para temer ataques externos à cadeia. E ela ainda afirmou que melhorias na unidade iam ser feitas assim que os presos dessem condições para os funcionários que estavam atuando na reforma pudessem trabalhar. "Eles foram para lá, mas foram expulsos", disse.

Na quinta-feira, quando visitou Manaus, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ, ministra Cármen Lúcia, demonstrou preocupação com a transferência de presos para a Vidal Pessoa. Ela chegou a questionar o secretário de segurança Fontes sobre o assunto.

As informações foram passadas à imprensa pelo presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, Flávio Pascarelli, após a reunião com Carmen Lúcia.Na ocasião, Pascarelli disse: "Essa é uma preocupação da ministra Cármen Lúcia. O Estado reativou a Vidal Pessoa, portanto houve uma contrariedade de uma determinação do CNJ. A gente entende que isso foi uma opção. O secretário de Segurança  explicou que não era uma opção porque não havia alternativa. Era a única alternativa. Foi uma decisão tomada em caráter emergencial".


uol

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